O que é ser bom/boa Pai/Mãe?

Aos nossos queridos pais

Afonso Rocha Pereira

1/8/20222 min read

Ser bom Pai, é ser suficientemente bom.

É oscilar entre a presença e cuidados necessários para um bom desenvolvimento da criança e entre a ausência e o distanciamento fundamentais para o desenvolvimento de um espaço de potencial criação.

Não será apenas educar, mas também permitir sermos educados pela forma como os nossos filhos tentam comunicar connosco, sem abandonarmos o lugar de Pais.

Ser bom Pai, é termos sido apaixonados pelos nossos próprios Pais e termos tido a coragem de, ao crescer, os ver também como as pessoas Humanas que são – tão parecidas a nós – com as suas maluqueiras e idiossincrasias e que por serem tão “bonitamente” imperfeitos, se tornam quase perfeitos. É termos sido amados, para que mais tarde possamos amar e ensinar quase só por gestos e olhares o que é o amor.

É colocar legendas onde elas ainda não existem, é sinalizar a verde, amarelo e vermelho os caminhos que vão sendo desbravados. É ir até ao fim da parentalidade, é ir até ao infinito e mais além, mesmo com a certeza de que a própria expansão do Universo também precisa dos seus limites para poder crescer.

Ser bom Pai, é ser-se a pessoa que se é e ter a audácia de sermos Seres em transformação.

É viver a vida em primeira pessoa, na certeza de que será o exemplo mais do que quaisquer palavras que definirão o projeto de construção da identidade dos nossos filhos.

É amar sem sacrifício, porque o sacrifício implica o abandono de uma parte de nós em prol de um Outro e, no fundo, ser-se Pai, ou bom Pai, não significa abandonar parte de nós, antes pelo contrário, significa um acrescento a quem somos – o que não significa que por vezes não possamos deixar entrar em nós o pensamento comum “Porque é que eu quis ser Pai?”.

É sentirmo-nos privilegiados pelo milagre que é criarmos uma vida a partir da união.

Ser bom Pai é viver no presente e acreditar que o futuro é o melhor da vida. É dar saltos de fé com os nossos filhos, porque é esse acreditar que cria a esperança nos seus olhares, e que por sermos quem somos vão desejar e lutar por crescer, para que um dia possam vir a ser um bocadinho como nós e um bocadão como eles.

Ser bom Pai não é perdoar sem consequências, é amar porque sim e ao mesmo tempo sermos capazes de nos respeitarmos em primeiro lugar. E, assim, quem sabe, mesmo que o amor incondicional seja um silogismo romantizado, contra todas as possibilidades, os filhos sintam em si essa casa acolhedora a que talvez possamos chamar: amor incondicional.