Há saltos de fé à nossa espera

Falta apenas saltar

Afonso Rocha Pereira

9/24/20212 min read

Há saltos de fé à nossa espera

Como assim?! Sou-te estranho?!

Somo-nos estranhos, isso sim. Tornámo-nos. Porque não nos transformámos.

Estivemos a viver demasiados dias suspensos num esmifranço de uma qualquer esperança de que a solitude um do outro desvanecesse sem que fossemos um do outro, sendo nós, claro.

Eu tenho frio e sem pensar no que me afasta, chego-me a ti num milímetro de segundo, enroscando-me… E é estranho… Isto é, o encaixe. E é estranho… E admito que me enraivece. Já não tenho frio. Tenho Invernos em mim. O meu problema já não é o frio. É o frio que eu já não sinto. É o frio que já não me sente.

E penso em ti de forma estranha.

Noutras alturas, com algumas vertigens, rebelo-me contra mim próprio e digo com toda a pouca confiança, que sou eu o estranho. E que já não te entranhas em mim, porque eu não me entranho. Não deixo. E é estranho. Não quero. Quero. Não quero. E não quero, talvez como as crianças que fazem birra quando surpreendentemente são barradas com um “Não” e que se deitam no chão sujo numa gritaria essencial a 150 decibéis.

Quantos de nós, já depois de sabermos pensar muitas coisas, nunca pensou: “Quem me dera que a minha mãe me tivesse dito mais “Não´s.”? Como se achássemos que não havíamos precisado de Sim´s para coisa nenhuma. Como se fosse verdade, que alguma vez o nosso pai nos tivesse dito que se orgulhava de nós, simplesmente por sermos quem somos. Como se fosse possível crescer no amor e nas relações barrados pela iminência da ausência de Sim´s. Como se acreditássemos que para sermos amados houvesse uma condição que nos obrigasse a transformar-nos em ferro. Que até podia ser verdade, mas o ferro é pesado e a gravidade penetra-se pelo vento e, quando levantamos voo, o ferro que se vai encrostando em nós não nos deixa subir mais do que mil pés. E aí, precisamos de Sim’s, mais do que pensar muitas coisas. Aí, se pudermos, há que largar o peso que nos contém.

E como?... Explica-me estranha.

E como… é que eu digo Sim a algo que me é estranho?

Há saltos de fé que eu nunca fiz. Fiquei no mesmo sítio à procura de atalhos que nunca me levaram até ti, que só me trouxeram ruas sem saídas e bilhetes de despedida ensopados de esperança de que os aviões fizessem a sua viagem de retorno, mas que nunca mais chegam e que nunca mais chegaram.

Afinal de contas, a luz do Universo é escura, nós é que o iluminamos.

Há uma fé no salto que me desespera.

Há saltos de fé à nossa espera.