Mil e um caminhos até ao céu

Há que encontrar o nosso

Afonso Rocha Pereira

9/24/20211 min read

Mil e um caminhos até ao céu

Há pessoas que não nos servem.

Não atraem. Por mais que maquilhem o corpo com músculos definidos.

Não atraem. Porque não se perderam (para se encontrarem - mil e uma vezes).

Tiveram medo. Da solidão que a Liberdade à noite carrega em si mesma. Tiveram medo do escuro e por isso negaram a luz do Sol, até a vida diurna, para que, de algum modo, pudessem acreditar que são elas quem governam e regulam as galáxias. Como se nós fôssemos assim tão gigantes na vastidão do espaço. Como se fosse possível existir sem a força dos buracos negros. Como se amar tivesse alguma coisa haver com controlo. Ou como se o amor viesse empacotado com uma espécie de dependência que nos ofuscasse o Sol, franzindo-nos a testa com força, carregando-a de rugas que nunca se preenchem e que ficam à espera de serem esvaziadas.

Antes disso, fecham-se (não totalmente) as cortinas e as portadas, para que a luz do Sol não nos encontre fugitivo dele.

Porque fugindo à noite, é preciso vivê-la. E o sono só aparece de dia. Fugindo da noite, ela fica mais próxima. Os dias são mais curtos. E os caminhos escurecem mais cedo.

Há pessoas que não nos servem. Porque não se perderam. Porque quem não se perde não sabe caminhos. Sabe um ou dois. E, por medo… por medo sim… Que o controlo do Universo de pouco tenha servido, abrem a porta de uma aparente Liberdade como se só existisse um ou dois caminhos até ao céu.

Há pessoas que não nos servem. Porque nos abrem a porta e dão-nos um pontapé lá para dentro. Outras, porque só abrem portas quando nos querem fechar nelas. Outras, porque embora abram portas, não estão dispostas a vir connosco (só até meio caminho).

Mas existem pessoas que nos servem. Que nos atraem. Porque nos ouvem. Elas também têm medo do escuro, mas não negam a luz do Sol por mais que saibam que é temporária. Perderam-se e perdem-se. Nos mil e um caminhos até ao céu.