Já não quero ser o Super Homem
Tudo o que não devemos ser, é omnipotentes
Já não quero ser o Super Homem
Sempre, (até hoje) vivi na certeza de que a minha omnipotência me faria Super-Homem. Super-atleta, Super-bombeiro, Super-pai, Super-amigo, Super-médico, Super-psicólogo, Super-tudo. Quiçá até Super-mulher.
A omnipotência faz-nos querer tudo. Querer ser tudo. E todos. E tudo. E todos.
E vivi na iminência de que sendo o super-homem, vivendo observando as cidades por cima (como quem olha os peixes) e fizesse de mim missão, salvar as pessoas que vivem nelas, nenhuma bala, nenhum cancro, nenhum karma, doença qualquer me atingisse as artérias.
Quis fazer e fingir de Deus, encarná-lo para não me ver por inteiro. Humano. Tão simples… E, sem querer, numa transformação que eu não queria, mas que queria: olhei para cima… Surpreso. Meu Deus… Faz tempo. Já não me lembrava das cores do céu. Tanto tempo a olhar para baixo que Deus passou-me por cima. E eu não vi. Meus Deus. Não pude ver.
Quis ler todos os livros, todas as mulheres. Provar todas as comidas e visitar todos os fins do mundo onde a Terra é plana.
Mas as cidades precisavam de mim. As pessoas morriam quando eu olhava para os campos. Hoje sei que fui eu. Que não as deixei crescer. Porque não confiei. Porque não me aventurei nas ondas. E fui olhando. Para não ser olhado. Para que Deus não me encontrasse. Mas para que fosse à minha procura.
Ele nunca veio à minha procura. Nem eu.
Mas encontrámo-nos. Quando me olhei ao espelho vi no reflexo as ondas a correr e sem pensar mergulhei.
P’ra meu espanto, as ondas desaguam em Terra.
Nunca vivi (até esse dia).
Ainda tenho certezas. A omnipotência ainda me pesa nas costas, tem desvanecido embora ainda me corra nas veias, mas....
Já não quero ser o Super-Homem.